Documentário aborda a pré-história do Estado de São Paulo por meio de pesquisas arqueológicas realizadas na cidade de Dourado, localizado no centro geográfico do Estado.
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00:00A CIDADE NO BRASIL
00:30A CIDADE NO BRASIL
01:00A CIDADE NO BRASIL
01:29Quando a gente fala de arqueologia brasileira, ela tem a ver com os índios, claro que tem a ver com os índios.
01:40A gente está falando dos ancestrais dos indígenas, que estão vivos, que existem até hoje.
01:47No estado de São Paulo tem muitos indígenas, mas elas também têm a ver com os ancestrais, com os antepassados da população que não se considera indígena, que se considera branca.
02:01Também são os antepassados dessas pessoas.
02:05E a gente está falando de pessoas que viveram há 12 mil anos atrás.
02:11Isso tem uma característica muito interessante, porque ao mesmo tempo que eles eram muito parecidos com a gente, ou seja, eles tinham os mesmos sentimentos.
02:25A gente está falando 12 mil anos, parece uma coisa muito, muito, muito antiga, mas na verdade já eram seres humanos como nós.
02:34Modernos, que a gente fala, anatomicamente modernos.
02:37Já tinham o mesmo tamanho do cérebro, já tinham as mesmas capacidades de mitos, de símbolos.
02:45Símbolos, mesma coisa que a gente.
02:47Então a gente como a gente, não estou falando de uma espécie ancestral, uma coisa muito diferente da gente.
02:54Então a gente sabe que essas pessoas tinham suas crenças, acreditavam em seres sobrenaturais, assim como nós acreditamos.
03:06Tinham as relações de afetividade com os filhos, com os parentes, com os pais, assim como nós temos.
03:11Então é uma humanidade igual a nós.
03:15Por outro lado, do ponto de vista da cultura, eram culturas muito diferentes da nossa.
03:22Quando a gente enxerga, quando a gente tem essas informações arqueológicas, nós estamos vendo a humanidade, mas ao mesmo tempo é como se fosse uma outra humanidade.
03:33Porque são pessoas que tinham uma visão de mundo tão diferente da nossa, provavelmente tão diferente da nossa.
03:41tão rica, né, que a gente não consegue nem imaginar direito.
03:48E a arqueologia, ela não consegue chegar nesse tipo de resposta.
03:51Ah, como é que eles viam o mundo?
03:53A gente não vai saber.
03:54A gente consegue ver como as pessoas de outras culturas veem o mundo só perguntando pra elas.
04:01Isso a antropologia pode fazer.
04:02Ou seja, falta um centímetro aí.
04:09Mas, por outro lado, a gente consegue perceber, pelas pedras que eles lascavam, pelos locais onde eles estavam, etc.,
04:16que eles tinham diferentes culturas.
04:19Mesmo dentro do estado de São Paulo, a gente sabe que existiam diferentes grupos humanos, diferentes culturas.
04:25Alguns faziam ponta de flecha de pedra, outros não faziam.
04:28Alguns lascavam só pedra, como é o caso aqui.
04:32Outros faziam cerâmica.
04:34Então, são várias culturas diferentes, todas vivendo na mesma região que a gente chama de estado de São Paulo.
04:41Então, é uma riqueza cultural tão grande que, em comparação com agora, a gente percebe o quão o mundo está ficando menos rico do ponto de vista cultural.
04:54Então, essa parte toda desse T para baixo, a gente já escavou e tampou a escavação como uma maneira de preservar os níveis, né?
05:17Para o sítio não erodir.
05:18Então, a gente fecha a unidade de escavação para garantir que o sítio não fique erodindo.
05:23Essa aqui foi a unidade mais importante do sítio até alguns anos atrás, porque foi dela que saiu a data de 12 mil anos atrás.
05:32E a gente alcançou mais ou menos uns 3 metros de profundidade e parou de escavar pelo perigo de desmoronamento dessa unidade de um por um, né?
05:42Mas também pelo fato de que já começou a minar a água.
05:46Então, os níveis mais profundos dessa unidade de escavação, eles estão batendo quase que ali no rio.
05:53Então, de uma maneira geral, o Bastos é o lugar que a gente mais trabalha justamente pela antiguidade, né?
06:07Da adaptação e essa antiguidade permite a gente pensar em questões de ocupação humana, né?
06:12Mas o entorno aqui é muito rico e tem muita coisa, muito sítio para trabalhar e muita pedra diferente lascada por aí.
06:21Mas no geral, a matéria-prima é sempre a mesma, é sempre o arenito silicificado.
06:25Qualquer coisa que fuja disso é uma matéria-prima exótica para o local.
06:29Essa peça é um exemplo do material que aparece no sítio.
06:33Então, esse aqui é um arenito silicificado, é a rocha local disponível.
06:36E é uma grande lasca trabalhada nos bordos, aqui em algumas partes.
06:42Então, essas linhas que a gente chama de arestas, elas delimitam a lasca que foi removida, né?
06:48Então, cada desenho desse mostra uma lasca que foi tirada dessa peça.
06:54E esses são os artefatos que a gente encontra aqui no Bastos, né?
06:58Pouca coisa com intensa modificação, geralmente são lascas que têm uma modificação na lateral,
07:06que a gente chama no bordo, que faz com que ela fique mais fina nessa extremidade, né?
07:13Ela já sai naturalmente assim, mas se necessário eles retocam e usam isso como uma parte cortante, né?
07:19Então, por exemplo, aqui é uma parte quebrada, né?
07:23Essa peça era maior, mas agora ela está quebrada, trabalhada dos dois lados.
07:29Então, tem uns negativos de retirada aqui, tem alguns outros aqui.
07:34Então, esse é basicamente o tipo de peça que tem aqui no Bastos.
07:38Então, por exemplo, quando a gente encontra também essa outra matéria-prima que chama Silexito,
07:43que é uma rocha não local daqui, mostra que, por exemplo,
07:46as pessoas estavam buscando essa matéria-prima num lugar mais distante e trazendo pra cá.
07:50Então, isso mostra o blocamento das pessoas pela paisagem.
07:53Então, a gente tenta descobrir onde está esse Silex, a fonte de Silex mais próxima,
07:58de onde eles pegaram, por que eles trouxeram pra cá, né?
08:00O que eles fizeram com esse Silex?
08:04No que diz respeito ao lascamento, as rochas têm propriedades diferentes.
08:08Então, uma pode ser melhor do que a outra.
08:10O Silex tem uma característica de lascamento melhor que o arenito silicificado, por exemplo.
08:15Então, quando a gente compara essas duas rochas, a gente pode ver,
08:18será que eles estavam fazendo outra coisa no Silexito, diferente do arenito, né?
08:21A própria matéria-prima pode impor um limite na manufatura dos instrumentos?
08:27Nesse caso, o Silex aqui é bem raro e a gente começa a perceber eles nos níveis mais profundos.
08:33E nos níveis mais recentes, a gente não tem Silex.
08:36Então, será que são pessoas diferentes ao longo do tempo?
08:39Porque é uma ocupação muito densa, né?
08:42Ao longo de 10 mil anos, pessoas passando por aqui podem não ser as mesmas pessoas, né?
08:47Mas elas têm uma memória do lugar, da paisagem,
08:50e elas sempre voltam aqui e estão sempre por aqui, né?
08:53Então, de maneira geral, provavelmente tinha muita gente por aqui e gente diferente, né?
08:58Quando eles passaram esses grupos diferentes, a gente não sabe.
09:03Mas, pelo que os instrumentos mostram, são pessoas diferentes.
09:06Mas, pelo que os instrumentos mostram, são pessoas diferentes.
09:36Mas, pelo que os instrumentos mostram, são pessoas diferentes.
10:06Essa parte do sítio que a gente está aqui é uma parte, vamos dizer, que a gente começou a trabalhar mais recentemente.
10:24Tem uma parte que a gente já está trabalhando há mais tempo e tem essa parte aqui que a gente está trabalhando mais recentemente.
10:30Nós começamos a escavar isso aqui efetivamente agora, dias atrás, está em 40 centímetros de profundidade e estava aparecendo material arqueológico, estava aparecendo carvão.
10:43Então, ou seja, parece que o sítio vem até aqui, o que dá 60 metros de sítio arqueológico em um dos eixos.
10:50Então deve ser um sítio arqueológico bem grande, a gente não sabe quanto ele vai para o morro acima ainda.
10:55Então, assim, é uma atividade para o resto da vida, tem material para escavar durante muito tempo.
11:05Quando a gente chega num sítio arqueológico, a maneira que eu gosto de trabalhar é entender a arqueologia da região, da localidade.
11:27Não ficar só fechado, só trabalhando num sítio e sem saber o que tem em volta.
11:35Então, desde o começo das nossas atividades aqui, que a gente sai andando pelas outras fazendas e pedindo, obviamente, pedindo permissão para entrar, para ver se tem material arqueológico.
11:49A gente explica o nosso trabalho.
11:50Por exemplo, numa fazenda próxima aqui, que é a Fazenda Boa Vista, nós entramos em contato com os proprietários, pedimos para dar uma olhada.
12:09E aí nessa fazenda tem um abrigo, um local que tem uma pedra inclinada, que forma um abrigo, ou seja, não chove dentro, é enorme.
12:39E nesse abrigo tem arte rupestre, tem registro rupestre, um monte de grafismos, de símbolos geométricos.
12:55Também tem algumas figuras de animais, que é o caso de um veado, um cervídeo muito grande, mas a maior parte são riscos lineares.
13:04E esse local, nós já também fizemos a escavação, esse abrigo também, eu não quero parecer que eu estou sempre falando, é o maior do estado, é o maior, mas é verdade.
13:17É o maior abrigo do estado de São Paulo e um dos maiores do Brasil também.
13:21E é uma coisa que a gente jamais imaginaria, que existisse no estado de São Paulo, dada a falta de conhecimento, dada a falta de que as pessoas não trabalharam muito no estado de São Paulo.
13:35Tem poucos pesquisadores que trabalharam no estado de São Paulo, comparado com outros estados que tem muito mais pesquisa.
13:42Ele é conhecido localmente como Pedra do Dioguinho e ele tem esse painel de registros rupestres, ou arte rupestre, que tem mais de 60 metros de extensão.
13:55Ele é enorme.
13:57E nós realizamos algumas escavações e nós estamos ainda, assim, escavamos pouco e ele já está dando 4 mil anos.
14:05Então, esse é outro sítio que é aquela coisa de projeto para o resto da vida, vai ter uma área enorme, vai ter material para muita gente trabalhar, muitos alunos fazendo suas teses, etc.
14:35Esse abrigo chama Pedra do Dioguinho e essa é uma coisa que eu aprendi recentemente, eu não conhecia isso, mas esse Dioguinho era um fora da lei, ele era um matador de aluguel, que é extremamente famoso no interior paulista.
14:57Fala-se do Dioguinho numa área enorme do território paulista, né?
15:01Aqui em Dourado, depois tem gente que já ouviu falar do Dioguinho lá em São Simão, para o lado de Santa Rita do Passa 4.
15:10Era um personagem, Araraquara, era um personagem que percorreu muito o interior de São Paulo, matador de aluguel, mas ao mesmo tempo era muito querido por parte da população.
15:24E assim, ele se escondia no mato, ele estava sempre fugindo da polícia, né?
15:32E teoricamente, essa Pedra do Dioguinho é um dos locais onde ele pernoitou ou morou durante algum tempo.
15:40Mas você acha que isso aqui pode ter sido um deserto?
15:49Não, com certeza.
15:50Isso aqui é um deserto, isso aqui é estaificação de Dourado.
15:54Por isso que ela é um regional e depois de outra sorte.
16:02Dourado do Dioguinho
16:04Dourado do Dioguinho
16:32Olha, a humanidade nem sempre foi assim, né?
16:36E também, assim, fala assim, nem tudo o que aconteceu, o que acontece, é necessariamente bom.
16:44Tem umas coisas ruins que acontecem com o tempo, né?
16:48A perda da variabilidade cultural é uma delas.
16:53Não tem pior, melhor, assim, ah, as coisas vão ficando melhores com o tempo.
16:57Não, a arqueologia não mostra isso.
16:59Ela só mostra que as coisas mudam ao longo do tempo.
17:02Jamais que elas ficam melhores ao longo do tempo.
17:05Essa é uma coisa muito importante.
17:07É uma das principais lições da arqueologia.
17:10Tchau, tchau.
17:12Tchau, tchau.
17:14Amém.
17:44Amém.
18:14Amém.
18:44Amém.