A Áustria prepara-se para um presidente de extrema-direita?

  • há 8 anos
A Áustria está a viver uma interminável campanha política. As eleições presidenciais que se realizaram em maio foram invalidadas, devido a irregularidades técnicas. O país está profundamente polarizado. Os representantes dos partidos mais moderados do governo – sociais-democratas e conservadores – foram afastados da corrida. O braço de ferro concentra-se entre Alexander Van der Bellen, ecologista, e o candidato do partido de extrema-direita FPÖ, Norbert Hofer, que foi a escolha de quase metade do eleitorado no escrutínio. O que tornou o FPÖ tão popular?

O nome de Werner Otti tem-se tornado cada vez mais conhecido na Áustria: para além de ter participado num concurso de talentos em 2011, é um músico recorrente em festas populares e, há já quase vinte anos, anima os encontros do FPÖ. Aliás, foi ele quem compôs o hino do partido, no qual se canta o amor à pátria com “lágrimas de orgulho”.



Segundo o cantor, “um dos aspetos que explica o avanço do FPÖ é a crise dos refugiados. Muitas vezes, dou o exemplo da minha mãe. Ela criou 15 filhos. Hoje em dia, recebe uma pensão de 450 euros por mês. Ao mesmo tempo, temos migrantes a chegar ao nosso país e a beneficiar de um sistema de segurança social para o qual nunca contribuíram. Não tenho nada contra eles, precisam de proteção, correm risco de vida… Mas os austríacos que passam dificuldades não compreendem este sistema. Nunca nos vimos confrontados com este tipo de realidade. Achávamos que íamos estar sossegados aqui no nosso cantinho. De repente, de um ano para o outro…”.

“A União Europeia é uma espécie de ditadura”

Calcula-se que, em 2015, tenham atravessado a Áustria cerca de 10 mil refugiados por dia. A retórica anti-imigração está a disseminar-se na política nacional, não só entre a extrema-direita. A diretora do “Der Standard”, uma referência no jornalismo austríaco, faz um retrato do eleitor do FPÖ.

“O eleitorado do FPÖ é constituído maioritariamente por homens jovens. Há também idosos que têm medo de ficar na miséria – esse é um dos grandes argumentos. Este tipo de medos é mais comum nas camadas sociais com menos estudos, entre aqueles que costumam resistir à mudança, à globalização, que receiam os migrantes que vêm viver para o país. Têm medo de ter cada vez menos oportunidades”, afirma Alexandra Föderl-Schmid.

Enquanto Werner Otti canta, a juventude do FPÖ espalha a mensagem. Fora dos encontros, Gudrun e Marlene costumam distribuir panfletos porta a porta. “A União Europeia é uma espécie de ditadura que determina o que outros países têm de fazer, sem lhes dar hipótese de debater as ordens que chegam…”, diz-nos Gudrun.

A estratégia é idêntica à de outras formações europeias: denunciar a parcialidade dos media, acusar os migrantes de delapidarem a segurança social e de roubarem empregos aos cidadãos, decidir por referendo.

Alexandra Föderl-Schmid considera que “isto é, no mínimo, uma ameaça para a democracia. Segundo algumas citações, o líder do partido, Heinz-Christian Strach

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