Os tradutores afegãos que a França deixou à sua sorte

  • há 8 anos
Estiveram ao lado das forças francesas frente aos talibãs. Mas, quando as tropas internacionais deixaram o Afeganistão, este grupo de tradutores ficou para trás. Considerados traidores, alvos de ameaças constantes, muito poucos conseguem efetivamente sair do país ou obter um visto por parte de Paris. A jornalista Sandra Calligaro trouxe-nos relatos de quem vive na penumbra de Cabul.

Haroon tem 25 anos. Trabalhou durante 4 como tradutor para o exército francês no Afeganistão. Após um longo processo que se seguiu à retirada das tropas internacionais, Paris concedeu-lhe asilo. “Penso constantemente no período em que trabalhei com os militares. São memórias que ficam”, diz-nos.

Memórias que incluem momentos extremos. “Houve uma altura em que pensei mesmo que íamos morrer. Os rebeldes estavam em cima de nós, numa montanha. Foi muito perigoso. Toda a gente gritava à minha volta. Felizmente conseguimos reagir, acelerámos, continuámos o trajeto e o exército nacional veio em nosso socorro. Senão, tínhamos sido mortos”, conta-nos Haroon.

Scenes from yesterday in #Kabul as ISIL bombers killed 80 at a peaceful Hazara protest https://t.co/mfN18IoRk3 pic.twitter.com/F0TfkTXXyA— Al Jazeera News (@AJENews) 24 juillet 2016


Mas a guerra ainda não terminou. A rebelião talibã continua. Haroon é considerado um traidor, mas salienta o orgulho por “ter ajudado os militares franceses. Era a minha responsabilidade: trabalhar e cooperar com os militares franceses, com a NATO. Tenho orgulho nisso, não me arrependo de nada.”

No entanto, há um preço a pagar: fugir. A família de Haroon fica para trás.

“Sentimos que os militares franceses nos abandonaram aqui”

Do outro lado de Cabul, encontramos uma estória completamente diferente. A de Najib. Trabalhou para uma rádio criada pelo exército francês, conhecida como “rádio esperança”, na violenta província de Kapisa. Os talibãs já o ameaçaram várias vezes. Vive escondido com a mulher e os dois filhos.

“Chamavam-nos infiéis e diziam que, se nos apanhassem, matavam-nos. Ameaçavam decapitar-nos ou queimar-nos vivos. Costumavam ligar-nos para a rádio e dizer-nos que se, reconhecessem a nossa voz ou a cara, não escaparíamos com vida”, revela.

Apenas um terço dos cerca de 300 tradutores que trabalhavam para a Embaixada de França teve uma resposta positiva ao pedido de asilo.

Ocasionalmente, Najib vai ao encontro doutros antigos intérpretes numa zona de Cabul considerada de alta segurança. Todos se dizem revoltados com o que lhes aconteceu.

“Queremos erguer a nossa voz contra a recusa da França. Queremos que nos expliquem quais são os critérios, porque é que uns puderam partir e nós não? Não é justo. Participámos nas missões militares, estivemos ao lado das forças francesas. Toda a gente aqui sabe quem somos. Sentimos que os militares franceses abandonaram parte das tropas que tinham aqui”, considera Najib.

Em França, um grupo de advogados abriu um processo judicial para inverter esta situação. Najib e os se

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